Quando comecei a jogar RPG logo fui
jogado para ser mestre pelo garoto que me ensinou, óbvio que ele preferia
controlar um PJ a mestrar e entregou a árdua tarefa para o primeiro adolescente
idiota o bastante para aceitar que ele encontrou. Fui apresentado a uma
aventura pronta da antiga Dragão Brasil, algo como “O príncipe demônio”, não me
lembro bem, então li a aventura dez minutos antes de iniciarmos o jogo e mestrei
aquela aventura mais perdido que cego em tiroteio. Lia trechos de informação
exclusiva para o mestre, não interpretava os PNJs e mandei os aventureiros
direto para uma caverna cheia de ossos e um gárgula. A aventura não durou muito
(acho que foi assim com a primeira vez de todos, se é que você me entende), mas
foi o suficiente para eu me apaixonar pelo posto de mestre e nunca mais largar
o cargo de mestre do grupo. Mas você deve estar se perguntando, o título do
texto é porque ele odeia monstros burros e está contando a história da vida
dele? Sim e não. Precisei contar para que você imagine um garoto de doze anos
que nunca havia tido experiência alguma com o RPG ser lançado atrás de uma
divisória (ou escudo do mestre) para narrar uma aventura.
Verdade que estava perdido, não
sabia o porquê do monstro estar naquele lugar ou estar atacando pessoas da
vila, apenas sabia que era um monstro e que os jogadores deveriam enfrentá-lo.
Confesso que por muito tempo foi assim, abria o livro dos monstros do AD&D,
escolhia uma criatura, lia o tipo de terreno e pronto, já tinha uma aventura
pronta para os jogadores. Por muito tempo os jogadores enfrentaram monstros sem
cérebro que estavam presos em uma caverna ou uma tribo de orcs que aparecia
sabe lá de onde e era o suficiente para nós. Mas com o tempo (cerca de dois ou
três anos) comecei a me perguntar “Por que o monstro está ali?”, “Por que os
aventureiros devam ajudar a vila?”, “Porque a guarda da cidade não faz nada?”.
Se você é mestre talvez já tenha pensado nisso algumas vezes e pode ter
acontecido duas coisas: ignorado seus pensamentos e continuado com monstros
desmiolados ou “evoluiu” e criou verdadeiras histórias.
Sim evolui, e depois disso
comecei a pensar como o monstro da aventura e me fazer as perguntas “Por que
esse monstro está ali?”, “Veio fugindo de outro lugar? Se sim, de que? Um
monstro mais poderoso?”, “Por que ele ataca as pessoas, para se alimentar ou
apenas por crueldade?”. Desse modo não tinha mais um monstro que aparece na
estrada por causa de uma rolagem de dados (sim, detesto Encontros Aleatórios),
mas uma criatura que estava ali por alguma razão, assim os jogadores não teriam
apenas a opção caçar o monstro e derrotá-lo, mas solucionar um problema. Talvez
um grupo de orcs estivesse atacando caravanas à procura apenas de comida e que
teve seu território dominado por um grande grupo de Ogros que escravizaram a
maior parte da tribo, ou um Troll se refugiou em uma caverna próxima da vila e
estava assustando e atacando as pessoas porque as pessoas iam incomodá-lo
acreditando que hora ou outra ele iria trazer problemas para o vilarejo.
Se você é mestre e está lendo
até agora talvez tenha se identificado com minha experiência como mestre e sabe
também, assim como eu, que os jogadores se divertem apenas cortando cabeças e
empilhando os corpos dos monstros, mas os jogadores podem se sentir mais desafiados
ao encontrar um grupo de bandidos que atacam vilas e viajantes com grande
perícia e que sejam tão inteligentes quanto os jogadores do que apenas uma
tribo de orc. Ou ainda eles acabam preferindo enfrentar um poderoso mago que
controla as pessoas da vila e as fazem sumir durante a noite sem que ninguém as
veja do que um dragão que caiu no meio da vila cuspindo fogo. Mas lembre-se
caso você “eleve” o nível de suas aventuras a outro nível os jogadores nunca
mais vão querer voltar ao que era antes.
Bom jogo.
Mateus
Soares
Acho que tive experiência parecida.
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