quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A lenda de Saci-Perere

         
           Sabaloci era um jovem forte e corajoso que vivia na África no século XVI com sua família. Ele era feliz e, apesar de jovem, ajudava seu pai e seus irmãos na plantação. Mas um dia Sabaloci e sua família foram levados pelos portugueses em um navio negreiro para serem escravos no Brasil.
           Durante a viagem muitos morreram devido as condições precárias do navio, seja de fome ou por alguma doença levada pelos ratos. Nem mesmo os pais de Sabaloci sobreviveram, mas o jovem forte resistiu e chegou ao Brasil.
           Sabaloci e outros negros eram obrigados a trabalhos duros durante jornadas exaustivas, e quando algum escravo caía de cansaço era chicoteado até se levantar e voltar ao trabalho, e sempre que o trabalho não era satisfatório para os portugueses todos os escravos eram punidos com chicotadas e redução de comida. Não era fácil, mas Sabaloci conseguia sobreviver a cada dia.
            O jovem estimulava seus companheiros a sempre continuar trabalhando, muitas vezes Sabaloci fazia o seu trabalho e de um companheiro que não conseguiria terminá-lo apenas para evitar as duras punições. Mas mesmo que Sabaloci estivesse colaborando com o trabalho forçado ele não aceitava a situação em que estava e desejava do fundo de seu coração se vingar dos portugueses e libertar o povo escravo.
            Com o tempo Sabaloci ganhou o respeito dos escravos que começaram a vê-lo como um líder. Os portugueses perceberam essa adoração dos escravos por Sabaloci e pensaram em matá-lo, mas isso faria nascer um mártir e provavelmente outros tomariam seu lugar, então os portugueses pensaram em desestimular as atitudes altruístas do jovem escravo.
            Uma certa noite os portugueses pegaram Sabaloci e o levaram para dentro da mata e lá espancaram o jovem escravo até que o dia amanhecesse, inclusive mutilando uma de suas pernas. Quando os escravos viram Sabaloci perto da morte naquela manhã rapidamente se preocuparam em trazê-lo de volta. Os escravos fizeram tudo que estava ao seu precário alcance e conseguiram manter o forte escravo vivo, porém ele nunca mais seria o mesmo sem uma perna.
            Um certo dia um escravo trazido da mata contou a Sabaloci uma canção que contava o caminho até um Quilombo, os escravos planejaram uma fuga e em pouco tempo Sabaloci estava seguro longe dos portugueses, mas Sabaloci havia prometido ao povo escravo que se vingaria dos portugueses e libertaria seu povo.
           Mesmo em uma perna só Sabaloci pulava rapidamente e com grande agilidade, e seu grande conhecimento da mata o fazia se esconder num piscar de olhos e reaparecer em outro lugar, assim o jovem escravo liberto infernizava a vida dos portugueses. Durante a noite Sabaloci ia até o acampamento e azedava o leite dos soldados, queimava o arroz e dava nós nas crinas dos cavalos para atrasar os cavaleiros. Os portugueses sempre tentavam pegá-lo, mas Sabaloci era mais rápido e mais esperto. Sabaloci assobiava para que os soldados entrassem na mata para procurá-lo, assim o esperto escravo entrava nas senzalas e libertava seu povo.
             Sabaloci era sempre visto com um gorro vermelho que ele acenava para que o povo pudesse entrar na mata, um sinal de que a barra estava limpa. O escravo nunca se separava de seu cachimbo, ele dizia que era para sempre ter fogo quando fosse preciso acender uma fogueira, mas os escravos sempre acreditaram que Sabaloci apenas apreciava o gosto do fumo.
             Mas uma certa vez, quando Sabaloci assobiava para que os soldados fossem procurá-lo, um esperto capitão-do-mato ficou espreitando, esperando que Sabaloci viesse libertar os escravos. O jovem escravo caiu em uma armadilha e o capitão-do-mato acabou por tirar a vida do jovem Sabaloci. Os escravos ficaram sem líder, sem alguém que pudesse guiar o povo para os Quilombos e assim eles estariam fadados a eterna escravidão.
             Mas em uma noite, quando os escravos já não tinham nenhuma esperança de liberdade, uma sombra sai do meio da mata pulando em um pé só, com um cachimbo na boca e usando um gorro vermelho. Essa sombra abriu os portões das senzalas e causou muitos alvoroços no acampamento dos portugueses.
             Então os portugueses e os escravos acreditavam que, mesmo que o jovem Sabaloci estivesse morto, sua alma estaria rondando pelas matas protegendo seu povo e se vingando de todos aqueles que perseguiam os escravos.
             Entre os negros essa história foi passada de geração em geração com grande orgulho, mas entre os brancos a lenda de Sabaloci era contada com escárnio e eles sempre se referiam ao jovem escravo como "o negrinho Saci-perere".


Por Mateus Soares.
           

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