Realismo
no RPG
Mestre: Finalmente vocês conseguem derrotar todos os cinco guerreiros...
Jogador: Verdade, mas nosso clérigo está com PVs negativos, ninguém possui a perícia cura para estabilizá-lo e nosso guerreiro possui apenas 5 PVs. O resto da aventura está acabada, não conseguiremos continuar.
Mestre: Que nada! Vocês ainda nem revistaram os guerreiros derrotados......
Jogador: Ok! Então procuro o que os guerreiros têm.
Mestre: Cada um deles possui uma poção de Cura Completa...
Jogador: Como assim? E por que eles não usaram?
Como mestre sempre procurei o
realismo em minhas campanhas, não um realismo no sentido literal da palavra,
mas um realismo dentro da fantasia! Complicado? Tentarei explicar melhor, mas
antes vamos entender o significado de Realismo e Fantasia.
Realismo:
Sentido do real; apego à realidade, ao concreto; Senso comum; Bom senso.
Fantasia:
Imaginação criadora; Ficção; Coisas que não existem na vida real.
Como se pode perceber a definição de
realismo parece incompatível com a de fantasia, mas não é. Quando jogadores
pedem campanhas “mais realistas” eles não querem ver seus personagens sangrando
até a morte com um golpe de adaga que perfurou sua barriga, ou sofrer com uma
terrível infecção causada pelo golpe de um goblin com uma espada enferrujada,
em um jogo de RPG o realismo que todos querem está relacionado com a
Constância.
Constância:
Reprodução não interrompida de um mesmo fato ou fenômeno.
O que a grande maioria dos jogadores
quer em sua mesa de RPG, independente do sistema que esteja jogando, é a
constância, a habitualidade. Jogadores não se importam em ver um guerreiro ser
alvejado por várias flechas e ainda sobreviver e vencer a luta, um mago voar e
soltar fogo das mãos, dragões, monstros e todo tipo de coisas fantasiosas e
fora da realidade, mas se algo deixa de ser plausível que a coisa fica séria.
Plausível:
O que pode passar por verdadeiro.
Vejo muito isso em Dragon Ball Z. Os
personagens são capazes de viver em gravidades que esmagariam seus corpos,
destruir planetas com apenas um disparo de seu dedo, se teletransportar, mas
quando um oponente se desvia de uma grande quantidade de energia (muito maior
que aquela disparada do dedo) e essa energia atinge a superfície de um planeta
ele não causa nada mais que uma cratera ou a destruição de uma pequena ilha.
Crianças podem ignorar essas coisas, mas para um público mais maduro isso acaba
se tornando algo implausível, e caso não seja um verdadeiro fã do desenho acaba
por criticar as inconstâncias do mesmo.
Numa mesa de RPG não é diferente. Jogadores querem constância, querem
que a história seja plausível durante toda a campanha. Então, em um mundo de
fantasia medieval seria aceitável que um orc xamã escravizasse uma tribo goblin
para fazer ataques a viajantes em estradas ou um necromante saquear cemitérios
para formar uma horda de zumbis, mas seria improvável (implausível, ou ainda não
consistente) que esse mesmo orc xamã usasse de seus poderes mágicos para curar
aqueles feridos em seu ataque, afinal orcs são orcs, e é uma constância que
orcs sejam sempre cruéis, ou ainda ver o necromante usar sua horda de zumbis a
favor do bem.
Ainda que coisas improváveis se tornem plausíveis com uma boa história
ou explicação os jogadores ainda podem achar, no mínimo, estranho. Ainda com
exemplos de DBZ me lembro de que Cell, um andróide criado com o DNA dos
melhores lutadores, tentava dominar o planeta Terra, mas para isso precisava
derrotar seus oponentes. Goku não tinha poder para derrotar Cell, então pediu
dois dias para que treinassem para enfrentá-lo. Então vem a pergunta: por que
alguém que quer dominar a Terra daria a chance de alguém protegê-la? A
explicação plausível para isso é que Cell possui o DNA dos sayajins, logo são
amantes pela luta e se sentem desafiados por oponentes mais fortes. Tudo bem,
isso é uma explicação, mas é no mínimo estranho. Do mesmo modo os jogadores se sentiriam
tirados da “realidade fantasiosa” do jogo quando visse toda a consistência da
campanha jogada fora ao encontrarem uma cidade élfica que extrai árvores da
floresta para vender ou ainda uma cidade afastada que existem homens com
características de animais (cauda de lobo, orelhas de coelho, etc), afinal, se
eles sempre existiram por que ninguém sabia da existência deles? E mesmo que haja uma ótima explicação para isso os jogadores sempre acharão aquilo no mínimo estranho!
Mas tome cuidado para não ultrapassar a linha da constância para um
realismo exacerbado. Nem todo plebeu é um homem sujo que trabalha na fazenda,
nem todo nobre é um homem gordo e cruel que maltrata seus empregados, nem todo
clérigo é bonzinho e nem todo mago possui uma torre mágica. Use sempre o bom senso
em suas campanhas e assim não haverá críticas de inconsistência por parte de
seus jogadores ou troca de olhares dos jogadores durante a descrição da cidade.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPosto muito bem explicado. Parabéns.
ResponderExcluirVocê poderia me dizer um rpg de mesa bom mesmo, e onde comprar ou onde baixar? Por que eu sempre vi as pessoas jogarem de mesa e gostei muito, e eu quero jogar também!
ResponderExcluirVocê poderia começar jogando o New Dragon, que é disponibilizado aqui nesse blog mesmo. Comecei a ler e achei bem legal.
ExcluirEu realmente prefiro um jogo aonde meu personagem possa morrer com uma simples facada na minha barriga. Pra mim isso é realismo. :(
ResponderExcluir(desculpe comentar em um post antigo)